Como é que uma mãe recupera disto de se negar a um filho?

abril 07, 2015

No dia em que fui operada de urgência ainda estava a amamentar e por isso o primeiro instinto dele foi levar a pequena cria para o hospital. Falei com a médica que me atendeu que me disse que sim, poderia ficar com a pequena durante a noite comigo de forma a poder dar de mamar á peste. Aqui já me debatia entre o "o hospital é só vírus e doenças" e o "amamentar é o melhor que lhe posso dar" mas mesmo assim tinha lá a ideia que ia ficar com ela. Fui para o bloco ainda a pensar no mesmo e quando saí e fui para o quarto as enfermeiras vieram já com um berço arranjadinho para ela ficar mas aí disseram-me que não se responsabilizavam pela estadia dela, que ia ficar á minha responsabilidade e que estavam super atarefadas pois o serviço estava cheio. Aqui comecei a ver a coisa por outro ponto de vista.

Então e se me dá outra camoeca com quem é que ela fica?
Começou a passar-me uma meia dúzia de filme pela cabeça.
Ela não tinha pulseira, qualquer pessoa podia passar por ali enquanto eu dormia e simplesmente levar o berço.
Estava bem no momento mas e se piorasse?
Estava ainda meia zarolha por causa da anestesia. E se adormecer ferrada e não a ouvir chorar?
As possibilidades de erro eram muitas e por isso resolvi dizer que não a queria lá.
Que era melhor ele a levar para casa.
Com muita pena minha ele lá teria de se safar sozinho,
E ele levou-a.
E eu fiquei sozinha com um berço vazio.
E podia ter aproveitado para dormir o que tanto tinho em falta mas não consegui.
Foi aliás a pior noite desde que ela nasceu.
Não conseguia tirar de mim o sentimento de recusa com que fiquei. No fundo tinha negado a minha filha. Tinha-a mandado embora como se não a quisesse.
Sim, eu sei que é uma parvoíce mas não conseguia sentir de outra forma.
A meio da noite fui pela primeira vez ao cantinho da amamentação sacar o leite e foi horrível ter de ficar ali, a ouvir os outros bebés a chorar, a ver a cara das outras mães todas contentes com os pequenos ao colo e eu ali, agarrada á bomba com as mamas cheias e sem cria. Acho que algumas devem ter pensado que a minha pequena estaria na incubadora ou assim e faziam-me o ar de pena. E eu só pensava "mandaste a pequena embora".
No dia seguinte só pensava em por os olhinhos em cima da peste e quando a vi chegar, nem consigo explicar o que senti. Fartei-me de chorar, de a cheirar e de lhe pedir desculpas. Vim para casa nesse mesmo dia e andei os dois dias seguintes que todas as vezes que ficava a olhar para ela começava a chorar por causa daquele sentimento de culpa e a pedir-lhe desculpas. Não sou uma pessoa dada a estas coisas, não tenho o habito de choramingar sem causa, não sei o que se passou comigo, acho que são as tão mal fadadas hormonas. Já passou a fase de choro mas continuo com o aperto no peito pela sensação que me ficou. Gosto de pensar que não faz mal porque ela não se vai lembrar de nada e afinal das contas eu tomei a decisão que tomei para a proteger mas como é que eu me convenço disto mesmo?
Como é que e tiro a imagem do ovinho a sair porta fora e o berço vazio durante toda a noite?
Como é que esqueço a tortura que foi ouvir todos aqueles bebés chorar a saber que não era a minha e que a minha estava longe, longe o suficiente que se chorasse eu não a ouvia, não lhe podia pegar, embalar e dizer que estava tudo bem?
Isto passa não é?
São as desgraçadas das hormonas não é?

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