Aos senhores deputados e ás suas supostas medidas a favor da natalidade

abril 13, 2015

Hoje pela manhã quando li as novas medidas propostas pró-natalidade senti-me doente de raiva.

Apesar de saber que na maioria é tudo conversa pré-eleições não consigo deixar de me sentir revoltada, como se fosse na rua e fosse assaltada enquanto todos os outros presentes simplesmente me ignoram.
Sinto-me roubada.
Sinto que este estado para o qual contribuo com mais do que acho justo só porque faço parte de uma geração que muito provavelmente não terá direito a reforma mas que, apesar disso, todos os meses têm de fazer todos os descontos necessário para pagar dividas que com certeza não ajudei a contrair. Estes mesmos descontos que não me permite fazer um PPR como gostaria, este estado que me demite do absoluto papel de mãe para me obrigar a perder a deliciosa fase que a minha filha atravessa e ainda me vêm com conversas diferenciais, entre pais e avós "do estado" e da restante vida deste país, como se não fosse eu e os meus descontos inadequados a pagar os seus salários.
Sinto-me descriminada. Parece, a olhos de algumas pessoas, que o meu direito á maternidade é menos valioso que o das cheias de sorte funcionárias publicas. Não que tenha alguma coisa contra alguém ter este maravilhoso direito que nem sequer devia, muito menos num país com uma tão baixa taxa de natalidade, estar em questão.
A senhora deputada Sónia Fertuzinhos diz, e a meu ver com toda a razão que “não é no final da legislatura que se fará um debate consequente sobre um tema como a natalidade” acrescentando ainda que “Durante quatro anos o governo não foi sequer capaz de pôr em funcionamento um organismo do Estado para acompanhar e discutir as políticas de família, o que nunca antes aconteceu. É só encenação da maioria”, e eu acrescento, os poucos apoios que existem não chegam de todo, e são extremamente incompetentes. Eu, apresentei os papeis na segurança social na semana seguinte á minha pequena nascer e estive por 3 vezes na SS a pedir informações e de nada me valeu. Para além de ter estado 2 meses á espera quer do abono quer do meu subsidio, das vezes seguintes que quer eu quer o pai da criança tentámos obter informações fomos mal informados, mal recebidos e ainda tiveram a lata de nos dizer que "os pais deviam ter feito uma poupança antes de ter filhos", "as contas que têm para pagar não nos dizem respeito", "é uma questão pessoal, não temos nada a ver com isso"...a mim ninguém me pergunta se quero descontar para a caixa deles, nem sequer chego a ver esse dinheiro que ganho por mérito, todos os meses me levam uma renda e quando uma pessoa precisa nem simpáticos conseguem ser, nem profissionais, nem competentes. E o abono pré-natal, vamos todos reparar nisto, PRÉ-natal, nem resposta obtive e a miúda já têm quase 4 meses.
Medidas ao arrendamento jovem, é bom sim, se os jovens deste país tiverem um trabalho e dinheiro para arrendar uma casa possivelmente vai dar jeito, se não, vivemos em casa dos pais, onde eles trabalham e nós ficamos em casa com os diplomas na parede e sem trabalho porque os nossos pais têm de trabalhar até aos cada-vez-mais-anos e ocupam o nosso lugar em vez de poderem ficar em casa a tomar conta dos netos, a oferecer o melhor colo que se pode ter depois do nosso, a criar memórias e amor.
Claro que não há crianças neste país, claro, não somos uma geração assim tão inconsciente quanto pensam, não temos filhos porque não podemos, porque caso os senhores deputados não saibam, eles saem caros, os apoios são nulos e a boa vontade não fornece leite para biberões ou descontos nas cresces ou pediátra.
Diz que este ano a natalidade disparou, que bom não é?
É optimo, a parte que não dizem é que estes novos bebés que engrossam a nossa lista de contribuentes, têm pais com idades no limiar da capacidade de reprodução, não dizem que os pais mais novos, esses que o foram na grande maioria por sorte, vão depender da grande ajuda que os seus pais lhes possam dar, se os tiverem e não dizem também que os que felizmente são novos e não precisão de ajuda são tratados com desprezo quando tentam obter os seus direitos perante os órgãos sociais que existem apenas e só para os assegurar.
Não é que uma coisa esteja mal, é que tudo em volta deste assunto está errado, parece que vivemos num pais supra populado em que o objectivo é evitar o aumento da população e eu, mãe de primeira viajem, mão orgulhosa, babada e apegada á minha cria, á minha cria surpresa, eu e ele, nós pais, vamos ter que a deixar com estranhos e pagar muito bem para isso, eu que a desejo mais que tudo vou perder o primeiro riso, o primeiro passo, a primeira palavra, eu mãe consciente que lhe quero dar o melhor que possa tenho que ir trabalhar ao fim de meia dúzia de meses, que me parecem horas e que na minha memória passam como segundos. O meu direito á maternidade é um obstáculo aos olhos do estado, é uma despesa, um problema, sou assaltada a cada dia que passa, num acto cobarde e de uma violência para connosco e para com a minha filha, a quem lhe tiram o seu colo, o seu direito a ser filha para passar a ser o lucro de um qualquer, ainda não decidido, centro de formação educacional.
Vêm-me falar de apoios sociais, deduções, taxas moderadores, escalões?
Sou eu a única a achar que gozam com a minha cara?
Ainda estou á espera que cumpram com os meus direitos, ainda espero respeito e consideração pela vida que criei.
Sou mãe, não sou estúpida, a minha condição não me incapacita de perceber o que se passa á minha volta, não sou um ás da politica mas julgo perceber onde começa o erro e onde acaba a minha paciência para esta palhaçada, este brincar com a vida das pessoas como se não existissem para defender o nosso direito.
Sou mãe, gostava de ter direito á maternidade, estou prestes a sofrer o maior assalto da minha vida e nada, nunca, nem ninguém me vai poder pagar ou repor aquilo que deveria ser o melhor momento da minha vida, da nossa vida e ainda gozam com a minha cara.
Sou mãe mas podia ser mais.


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