"ai coitadinho do adulto que não têm culpa nenhuma"

julho 23, 2013

Os meus pais separarem-se.
Separaram-se, sem ponto.
A coisa não estava bonita, o pai reclamava a mãe chateavas-se, um enervava-se o outro chorava e vise-versa.
Ambos tomaram atitudes que não deviam, ambos disseram o que não pensaram, ambos estiveram mal um para o outro e ambos estiveram mal para nós filhos que do nada e sem saber onde as coisas começaram, sem saber onde iam acabar (o que continuamos sem saber) nos vimos envolvidos em alguma coisa que não sabemos o que é nem onde nos vai levar, nem agora nem noutro dia.
Houve acusações, ainda há.
Quando tentamos ajudar somos os que saímos mais magoados e nunca ninguém nos pergunta sequer se estamos bem, se conseguimos levar com isto e continuar com a nossa sanidade mental regulada.
É um sentimento fodido este de querer fazer sem saber o quê, sem querer ajudar sem saber como, de saber que devemos dizer alguma coisa mas ao mesmo tempo sem querer fazer...silêncio...era isto...silêncio e aquilo que já foi.
É sempre aquela conversa  do, se foi, como foi, suposições de se terá sido e se já era antes...um filho cansa-se de ouvir sempre o mesmo, fica com medo das atitudes, no fundo por mais que agente saiba que foi para o melhor, que se saiba que como estava não estava bem, bolas pá, já paravam disto, já paravam de nos pôr nesta situação de merda que não se sabe de nada, quando se sabe era preferível ter ficado na ignorância, isto para não falar nas meias medidas desde o "pergunta á tua mãe" ao "o teu pai que te explique".
Vamos cá ver se me explico não só para estes pais como para todos os que estão nesta situação.
Não interessa a idade que um filho têm, nunca é fácil para nós estas coisas, ouvi dizer que quando se é criança não se percebe bem o que é que se está a passar e "ai coitadinha da criança que não têm culpa nenhuma" pois fiquem sabendo que também é verdade o "ai coitadinho do adulto que não têm culpa nenhuma", tá!
Não sei porquê mas começo a crer que o coitadinho do adulto é pior, é que nós percebemos as coisas, temos ideias e conceitos que nos foram incutidos por estes mesmos pais que derrepente se julgam no direito de abalar as bases que eles próprios criaram, não me parece certo, espero que não parece a ninguém.
E depois querem sem querer, claro, que agente tome uma atitude, fique de um lado só, e ai de nós se dizemos que não estão certos, aí está 3 horas de um monologo estranho em que se queixam constantemente, e recriminam, e falam mal do outro ser que nos deu a vida, a educação e responsabilidade de ser gente.
Havia tanta coisa a dizer, tanta mágoa que vamos guardando cá dentro até rebentar e passar outras tantas horas a chorar até o cérebro não conseguir mais, as lágrimas secarem e a boca saber como se não comesses á séculos e não tivesses lavado os dentes antes de dormir. Não sei se sabem caros pais de gente adulta, também doí, também fere independentemente dos anos que se têm e talvez por se ter já uns quantos, talvez só por isso, não sei, doí mais ainda, porque vimos o lado bom, porque custa a crer nas coisas que vemos e ouvimos, e porque afinal de contas, nunca deixamos de ser filhos de pai e mãe.

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