Se eu tivesse direito a 1€ por cada vez que me dizem para ter calma estava rica.

Atentem no que vos vou esclarecer:

Ninguém, ninguém mesmo se acalma com um "tem calma" atirado em momento de crise.
Pelo contrário.

Quando eu entro em loop psicológico o que eu preciso é do meu companheiro e de saber que a minha filha está bem, que não me vai entrar pela porta a dentro e ver-me naquele estado.

Também vos digo que leva tempo até uma pessoa em crise perceber o que é que a vai fazer sentir melhor, simplesmente porque está em crise e não consegue raciocinar como deveria e com isso torno a repetir o "tem calma" e o "não stresses" são o pior que podem dizer, talvez porque nos leve a perceber que o nosso estado está a afectar o outro ou porque não o queremos reconhecer e ao ouvir estas tiradas levamos uma espécie de soco no estômago cheio de realidade.

Não vos sei dar uma fórmula para que cheguem ao vosso lugar zen, mas posso dizer-vos o que para mim serve.

Atentem que eu, quando tenho ataques, fico com a musculatura presa na zona dos pés, mão e pescoço, como se os tendões estivessem presos estão a ver?

Ora, não me dá muito jeito andar como tal prefiro ficar num canto sentada ou deitada apesar de a minha vontade ser que correr a meia maratona. Não consigo que me toquem, não é que não queira, é que quando alguém me tenta tocar o que eu sinto é que me estão quase que a queimar, como se estivessem com formigueiro estão a ver? Ali naquela altura em que quase está a passar mas dói?

É isso. Os abraços da minha filha são bons, o toque do meu companheiro é bom mas de resto não. E eu que sou uma pessoa de abraços.

Se eu falar consigo explicar o que estou a pensar e é como se ao me ouvir as coisas deixassem de ser reais e eu percebesse que são cenas da minha cabeça, quando isso não acontece e já estou bem embrenhada no meu filme agradeço que me façam perceber o que se está a passar através de factos e não de "não stresses".


Se conseguirem ter alguém que saiba como respirar é sempre uma mais-valia.

Se eu conseguir chorar, regra geral, acalmo, os músculos começam a relaxar e eu consigo respirar normalmente.

O melhor a fazer é conseguir reconhecer os sinais de alerta que também são diferentes de pessoa para pessoa. Por vezes dentro da nossa bolha não percebemos os sinais e por isso é óptimo ter abertura com alguém próximo que os saiba reconhecer, por exemplo, eu volta e meio ando com a mão no peito, na realidade porque com a ansiedade não respiro bem e começo a sentir aquele aperto que não é mais do que a respiração incorrecta, porem eu acho que é o coração a dar o prego, ou seja, se me virem a andar de mão ao peito como quem conta batidas já sabem.

Quando me diagnosticaram com este transtorno disseram-me que a tendência era piorar sempre a cada ataque porque a determinada altura começam a ser mesmo mesmo fodidos e começamos a ter medo do próximo, acontece que eu não sou pessoa cagarolas e isso joga a meu favor, percebi logo que o plano não era temer, o plano é reconhecer e aceitar, quase como quando engravidei e sabia que teria de parir, sabia que podia correr mal, sabia que ia doer mas também sabia que passava e que depois vinha a parte boa.

Sim porque depois de uma descarga de adrenalina daquelas boas vem sempre a parte em que o corpo pede e aceita descansar, dormi e respirar.

Torno a dizer-vos que é preciso apoio de um médico competente e em que confiem, eu não teria lá chegado sozinha de todo e continua a ser uma luta interna e diária.

Sempre que precisarem digam, partilhar experiência também é uma forma de lutar contra este estigma que carrego eu e todas as pessoas que vivem com qualquer transtorno mental.

Fui diagnosticada há cerca de 3 anos e ainda hoje uma boa parte dos meus familiares e amigos próximos se espantam quando partilho publicações como as de ontem.

Eu estou bem.

Vou estar bem.

Só vivo com esta condição e pronto, acreditem que nos dias mesmo mesmo maus vocês não ouvem falar de mim, porque nesses dias, nesses em que ter calma não funcionar e que não consigo não stressar, nos dias em que as pessoas me dão choque em que o meu corpo fica bem longe do meu pensamento, nesses dias, nesses eu fico na minha bolha onde só entram eles os dois.