No dia em que deixei "as drogas"

dezembro 13, 2018



No dia em que o meu psiquiatra me disse que eu podia deixar de tomar os psicofármacos foi como se me dessem a melhor prenda de aniversário antecipada e me sacassem a bengala ao mesmo tempo. Sim, porque esta medicação é essencialmente isso mesmo, uma bengala, mais cedo ou mais tarde o plano é que deixe de existir na nossa vida, o plano é fazermos uma viagem juntos, como os caminhantes com mais de 40 anos mal preparados e os seus bastões que de volta a casa arrumam o dito bastão lá na última caia da garagem para que nunca mais tenham a ideia de fazer 30km de montanha, talvez seja das mais difíceis viagem e talvez esta bengala seja das piores companhias de todas mas no fim, quando tudo se acalma, esta é uma viagem extremamente reconfortante e o que advém daí levamos para a vida.
Fiz de tudo para não recorrer a estes fármacos, tinha alguma ideia do que seria lidar com isso e uma ainda melhor do que era deixar de lidar com a medicação, tinha medo de a tomar a bem da verdade, comecei por introduzir a prática de exercício físico e fui somando coisas que segundo os médicos e outras pessoas com o mesmo transtorno me diziam que resultava, que ajudava, acrescentei massagens de relaxamento, vários tipos delas, medicação natural, acupultura, fitoterapia, meditação, estudei o que é a ideologia mindfullness, porém, chegou o dia em que tive de ser medicada.
Comecei pelo Alprazolan 1mg combinada com a versão RX 1mg, não me valeu de muito, algum tempo depois mudei para a Sertralina 100mg, sempre com Loflazepato de etilo em sos, coisa pouca. Para mim foi bastante complicado aceitar a medicação, não por ter algum tipo de preconceito mas porque eu sou do tipo de pessoa que acha que mais depressa morre da cura do que da doença e se a cura envolve medicação que só se obtém com receita médica complica um bocadinho, se a isso acrescentar o facto de ter que fazer um desmame da medicação eu fujo como o diabo da cruz.
Lá teve de ser, era muito o cansaço nesta luta inglória comigo mesma e o resto do mundo. O primeiro dia de medicação foi passado a dormir, mesmo, ferrada, não ouvi nem a minha filha a chamar por mim e nós pais sabemos que ouvimos o mais pequeno suspiro das crias, o segundo dia foi melhor mas toda a primeira semana foi horrível para mim, depois com o tempo foi melhorando, foi entrando na rotina, fui-me esquecendo dos medos e com isto passou um ano.
PUMBA, como assim um ano?
Confesso que só me dei conta quando li o email do médico.
É estranho este sentimento de perda, levei tanto tempo a habituar-me á ideia de que tinha que fazer este tratamento que agora que ele acaba, ao menos tempo que rezo para ter muitas saudades dele me sinto de alguma forma roubada.
O desmame já ia com 5 meses, foi lento para que não houvessem grandes cortes, creio que mais por uma questão psicológica que física mas isso é das perguntas que já não faço, senti-me mais instável uns 15 dias depois de o começar a fazer mas de resto foi tudo tranquilo.
Espero que esta neblina que se instala com a medicação se levante de vez, estou curiosa, estou feliz por voltar ao meu normal, o "problema" vai cá estar sempre, sei disso, é meio caminho andado, acredito que tenho hoje ferramentas internas que nunca julguei existirem, mas assola-me a questão:
E agora Maria Carpideira?
E agora?

Agora, já lá vai um mês!!

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