Isto sai-me do peito

julho 28, 2016

Com a mesma força com que entra o ar em momentos de pânico.
Isto, se é que se pode chamar de Isto é uma espécie de sofrimento, longo, sem causa, não sentido, em forma de presságio louco do que talvez um dia, quem sabe possa ou venha mesmo a acontecer.
Não me é possível controlar Isto e esse facto só por si já me faz mal, não me é possível hoje como era à uns anos atrás, não muitos, à uns 3 anos atrás.
É incrível como 3 anos mudam uma pessoa, a sua forma de pensar, de agir, ponderar e até a sua forma de controlar. Talvez fosse insensível, talvez a maternidade me tenha feito mal por este ponto de vista. Talvez, não sei.
Sempre vivi a vida porque sim ou não, era consoante o que achava melhor para mim, não me importava em correr riscos, se era para ir eu ia e depois logo se via, não tinha medo das consequências.
Depois ela nasceu, ela, o meu mundo, o eu não conta, deixei de contar no momento em que a vi e tem sido uma progressão, eu penso nas consequências, nos actos e nos "e se" da vida e todas as decisões possíveis são tomadas em prol dela, desse meu mundo.
Então hoje, fartinha de ver todos os santos dias em primeiro plano as tragédias que têm vindo a acontecer não consigo deixar de pensar e se? até que ponto o meu mundo esta seguro. Até que ponto as atitudes de outros pode transformar Isto e morro de medo. Sinto uma coisa em mim que não se descrever mas que julgo que saibam o que é. Vai de um sentimento de culpa à vergonha alheia, passa pela crença no fim da humanidade para a absoluta acerta de que a próxima guerra mundial está tão próxima que eu ainda a vou viver. Sobe-me o pânico ao peito se entro em qualquer espaço público apelativo e depois cai-me a realidade aos pés, não precisa de ser apelativo. Não sou fácil de comover, mas custa-me que a minha vida de ocidental valha muito mais que a de uma outra como eu algures numa pior parte do mundo, assim como a minha vida a da minha filha. Custa-me porque a minha dor de mãe serve de igual forma para os filhos dos outros.
Recuso-me a facilitar a vida aos mal capacitados que esperam uma franca e gratuita divulgação, recuso fazer esse papel mas mesmo assim lá vão soltando algumas palavras. Recuso-me a ter medo de viajar, de ir a um espectáculo ou de andar na rua mas mesmo assim não consigo deixar de pensar no que faria se algo de mal acontece à minha cria, se tomasse a decisão errada. Revolto-me comigo mesma por me permitir a este pânico inseguro, interno. Sinto que fraquejo. A minha vida não vale mais do que a de outra igual à minha mas é a minha e quero manter o estatuto de viva e livre.
Por mais que me custe.
Ao fim de cada dia agradeço tudo o que tenho, todos os pequenos detalhes. Agradeço e penso em como num outro qualquer lugar existe alguém com muito menos que eu a fazer o mesmo e obrigo-me a fechar os olhos e a dormir como quem vai ao leme de uma embarcação onde se sabe que a vontade é o suficiente para seguir em frente como Pessoa disse, como talvez dissesse.
Porque aqui ao meu leme sou mais do que eu, sou um mundo que quer o que já é seu e por mais que o medo que a minha alma teme, e roda nas trevas de uma razão sem fundo, manda a vontade que me ata ao leme e me dá a liberdade de viver como quero a cada segundo.

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