fevereiro 18, 2016


Esta foto foi tirada lá, naquela praia ou perto onde aquela mãe, que muitos agora dizem nunca ter sido, decidiu nem eu sei bem o quê.
Não consigo atribuir um nome a um ato destes.
Estive até agora a digerir a pouca informação que deixo que me chegue aos ouvidos. Não tenho estado a conseguir, tenho aqui dentro uma revolta, uma imagem fixa do corpo de uma criança morta na areia da praia que tanto estimo, que tanta alegria me deu, ali, fria e sem vida, esse corpo que sendo português se assemelha em muito ao outro e isto tudo sem sequer o ter visto. Não consigo.
Acreditando eu que uma mãe só mesmo num momento misto de medo, loucura e desespero seria capaz de cometer um desvaneio destes com uma criança, com as próprias crias, acreditando, sentei-me com a minha filha no colo, num colo quente sem o mínimo cheiro a maresia e tentei imaginar, tentei colocar-me no lugar dela, afinal o que é que me poderia levar a mim a fazer tal coisa?
A minha mente divaga logo para um cenário caótico, com direito mais uma vez a zoombies, o Céu a cair e eu a correu com ela ao colo entre chuva de fogo e vulcões a explodir e mesmo assim, ali, com ela o mais lapa possível, entre o atirar-me do penhasco e o envolver a cria no meu corpo, agachada, era preferivel tentar num louco desespero fazer com que o meu humano corpo a conseguisse proteger de um tudo.
E eu na minha mariquice dei graças por não saber o que é um companheiro agressivo e muito menos um pai agressor, por esta ou outra ordem.
Meu deus, como é que é isto de ter em si um tal "quê" que me tire tudo num segundo de nada?
Esta mulher sobreviveu, será que ainda na sua loucura se consegue sentir mais tranquila por saber que as filhas não vão mais sofrer à maldade de outros?
Será que tem a noção que nunca, mas nunca mais o seu colo vai voltar a estar cheio daquele amor?
É que nem pena lhe consigo ter, nem indignação, nem despreso, sinto-lhe um formigueiro no peito, não sei se por ela se pelo real medo que tenho de poder de alguma forma ficar também eu de colo vazio, sinto os olhos em àgua...
E as pessoas são má, fazem julgamentos sem ter a noção, sem saber, atiram pedras, primeiro à mãe, depois ao pai, depois à falha no sitema, de seguida ao mundo e à mulher, essa mulher que deveria ter nascido de ventre seco, essa vitima de uns, essa monstra de outros.
Aos meus olhos, sem falar na incerteza e falta de uma das filha, espero que esta mãe não saia nunca do surto psicotico em que acredito que tenha criado porque nenhuma mãe merece ter na cabeça a imagem de um corpo frio, enerte, 19 meses de gente, sorrisos e alegrias, ali na praia onde eu fui feliz.

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4 comentários

  1. Esse caso é muito triste. Mas na verdade, não consigo atirar pedras, pois não consigo me consigo imaginar nessa situação. E se não o consigo fazer, não é justo pôr-me a julgar.
    Embora haja muitas pessoas sem sentimentos no mundo, mães, pais, familiares, por não conhecer as pessoas, não consigo analisar friamente, nem este nem outros casos.
    Embora não possa deixar de reconhecer e concordar contigo que é bastante triste.
    Beijinhos

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  2. acho que não há palavras para descrever esta situação....

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  3. Estas coisas são mesmo muito complicadas :/

    Não conhecia o teu blog ,já te estou a seguir !
    visita também o meu :)

    www.fashioncannibal.blogspot.pt

    beijinhoo

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