O primeiro dia em que achei que seria o último

fevereiro 09, 2015

Não tive complicações no parto, pelo contrário foi fácil e rápido (menos meia hora).
Vim para casa e tudo corre bem, a miúda é bem comportada com umas belas cólicas aqui e ali mas nada de especial e tirando a questão de não querer virar gordinha tudo corre bem.
Não tive dores, não fui cortada e os tristes 3 pontos que levei não infeccionaram.
Estava tudo bem.
Fui à consulta de um mês e liberaram tudo, tudo impecável.
Estava tudo bem.
Acordei e vesti a pequena com direito a banho e tudo e estava toda orgulhosa porque lá chegámos a horas à pesagem. Consolei-me a ver a minha avó com a bisneta e estendi os pés à lareira enquanto a miúda dormia e o chocolate acabava.
Estava tudo bem.
Até que deixou de estar.
Senti-me a molhar e até que pensei que era a menstruação. Fui à casa de banho e achei que era um pouco de mais mas lá forrei a cueca e fui caçar as minhas Anitas ao sótão. Demorei 5 minutos e quando voltei a sentar-me no trono já nem cuecas tinha. Estive uns 10 minutos sentada a pingar. Vesti umas daquelas cuecas descartáveis para adulto que por acaso existem lá por casa. Depois a coisa foi rápida. A minha mãe chamou os bombeiros. Fui para o hospital e fui operada de urgência. Sim, eu, a parideira perfeita fui operada de urgência porque no dia em que a miúda nasceu,  à quase 2 meses, me aviaram da sala de partos com restos de placenta e me autorizaram a vir para casa 3 dias depois sem fazer uma eco de rastreio. E uma pessoa quando não sabe, não sabe. Diz que perdi muito sangue. E eu acredito a contar com o estado estilo filme de terror em que deixei a casa de banho das urgências e pelo ainda mais branco que o normal perfil que ainda exibo uns dias depois. Acredito pela dor de cabeça que ainda tenho, pela falta de ar que me afecta quando subo as escadas por 3 vezes seguidas e pelas tonturas que volta e meia ainda tenho. Diz que é por ter a hemoglobina em baixo. Diz e eu tenho que acreditar porque não sei melhor. Ainda tenho na cabeça o olhar de dúvida quando me perguntaram por umas 4 vezes se não sentia dores, se o corrimento não tinha um cheiro fétido. Como se eu se por um acaso tivesse dado conta de algum dos sinais de alarme não me fosse cuidar e me fosse esconder deliberadamente na fachada do está-tudo-bem. Porque fazia toda a lógica. É estranho como uma pessoa, um ser adulto, do nada se torna tão indefeso. Acho que não vai ser tão cedo que vou deixar de sentir isto de ter medo de não estar aqui daqui a, sei lá, 3 segundos. Somos frágeis de mais para nos termos como garantidos e no entanto passamos a vida nesta brincadeira de acharmos que somos eternos. Por vezes, talvez na maioria delas, nem sequer depende de nós. Eu cá fiz toda a minha parte, Vigiei-me, fiz tudo o que me aconselharam para recuperar da melhor forma no meu pós parto e de que é que me adiantou?
Bem, não me adiantou de nada porque houve alguém, alguma coisa que naquele dia 18 não fez o mesmo que eu e por isso eu, que não contava, eu que tive todos os cuidados, eu que estava convencida que estava bem, que estava tudo bem tive de passar na primeira pessoa por a experiência de achar que aquele dia seria o ultimo. Não foi, felizmente. Mas foi com certeza o primeiro dia em que senti que nunca mais iria ser o que era, só ainda não sei se para bem ou mal.

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