Uma horinha pequenina

janeiro 05, 2015

A determinada altura comecei a contar contracções. Eram tipo muínha curtas e bastante toleráveis. Levei a noite toda nisso e de manhã anunciei a coisa ao homem que já nem queria ir trabalhar mas eu cheia de coragem lá o despachei.


 Acho que ainda não estava bem convencida de que tinha mesmo chegado a altura de desovular a pequena. O dia passou rápido. Ainda arrumei a casa e deixei tudo orientado. Tinha decidido só ir para o hospital quando as contracções fossem de 10 em 10 minutos e tencionava manter o plano sob pena de passar um monte de tempo desnecessário no hospital à espera para parir ou de me enviarem de volta para casa. Por volta das 16h a coisa começou a ficar difícil, a muínha já era mais que isso, a cadela já se sentia incomodada e preocupada o que fazia dela uma sombra versão hora do almoço, sempre no meu entre pernas, sempre a choramingar para a minha barriga que dona Carlota fazia mexer-se de uma forma escandalosa e aí resolvi accionar o alerta geral via sms e o homem pôs-se a caminho enquanto nós duas fazíamos o nosso trabalho e mariolinhas se colocava em perigo constante de ser apanhada por uma chuva de águas de parto. 


Quando ele entra em casa já estava em modo está-na-altura-de-ir-para-o-hospital à umas 3 contracções atrás. Ele lá levou a cadela à rua e lá fomos indo. E foi tudo tão rápido que nem dei conta. Dei entrada no hospital às 17h55. Acho que só me dei conta que estava na hora quando me dizem que não me posso mais levantar da cama. Havia um monte de máquinas, um armário cheio de coisas e mais um cadeirão para o pai que acabou por só sair da minha cabeceira quando foi obrigado para eu levar a Epidural. A peste para não variar lá estava em estranha posição o que me levou a estar uma boa parte do tempo virada para o lado e numa posição nada confortável para podermos ouvir o batimento cardíaco dela. A pior parte começou quando o meu corpo se resolveu revoltar contra mim. Parecia a miúda do exorcista. Toda eu tremia. Toda eu tremia e toda uma anestesista deu a fuga porque não havia condições de me dar o raio da coisa para as dores e imaginem, era hora de mudança de turno. Quando a nova equipa deu de si, uma meia hora depois, já estava eu na fase do desespero sem consegui perceber como raio é que ainda existem mulheres a querer passar por aquilo. Ver a anestesista entrar em cena foi como querer muito um chocolate e quando o recebes descobres que é o teu preferido,bendita seja a mulher da qual me esqueci o nome mas que foi a salvadora da minha postura pois estava a segundos de começar a berrar e chorar alto. Quando ele voltou já estava uma maravilha de novo. E daí até a pequena nascer foi coisa de meia hora. O enfermeiro parteiro entrou em cena, começou a analisar a coisa e super espantado disse que via a pequena. Fiz força 3 vezes. Uma para perceber se era assim que se fazia, uma para a cabeça e uma para o resto e pequena pónei nasceu. É mesmo verdade que se sente um grande alívio quando ela sai cá para fora. Tinha um cordão curto. Fui invadida pela noção de que agora não era mais só minha. E por uma outra coisa que ainda não sei o que é mas que julgo ser o que se chama o amor incondicional. E ela chorou. E vinha roxa e enrugada. E é minha, fomos nós que fizemos e têm os dedos todos e afinal até que é pequenina. nada mais importou. Nem os pontos que não levei. Nem a placenta envelhecida. Nem as massagens à barriga para expulsar o resto de 9 meses de formação de um ser. Nada mais importou porque os meus dois olhos bateram na pequena que em nenhum momento me deixou ver a cara, que naquele momento bocejava em cima do meu peito enquanto a enfermeira tirava fotos e a médica entrava e verificava que já não me vinha avaliar porque já tinha parido. Afinal disseram-me que levaria umas 4 horas no mínimo mas ás 9:43 foi a hora e o minuto mais importantes da minha vida.
E nada mais importou.

39 semanas e 5 dias

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