Respirar

fevereiro 23, 2017

É uma coisa fácil e inerente ao ser humano.
É simples de realização motora obrigatória e auto controlada, todos sabemos que não se vive sem que este ritmo por vezes frenético nos encha a cada 3 segundos, assim como é obvio que o contrario aconteça. É coisa que fazemos sem dar conta, sem pensar nisso, sem preocupação ou necessidade de pensar em fazer.
Mas e se, só "e se", um dia, sem dar conta, te esqueces de respirar?

E se, um dia, não só não pensas como não o fazes, não enches os pulmões de segundos a segundos, se te esqueces não porque não seja preciso mas porque todo o teu corpo, o teu cérebro, precisa de fazer outras mil coisa e acha que aquela não é necessária?
Já vos está a faltar o ar?



Não é grave se falhares umas 5 respirações por minuto, se reténs todo esse dióxido de carbono até que as veias estejam a latejar, não é pois não?
Grave deve ser quando passas a te esquecer várias vezes no mesmo dia, dizem.
Eu não sabia ao certo o que era aquele estado desagradável em que volta e meia me encontrava, parecia que o peito ardia, que a mente levava mais tempo a processar informação, que pensava mais depressa do que conseguia reproduzir os sons e ao falar todo um emaranhado de palavras se desfazia por entre os dentes, eu sem saber o que era aquilo, achava que era um AVC, um ataque de asma, uma qualquer doença estranha que me fazia ficar super mal quando estava super bem.
Houve um dia em que simplesmente deixei de ver, suspeitei que tivesse desmaiado, mas logo de seguida a visão voltou e eu estava no mesmo sitio, na mesma posição, foi um pânico real, nem sei bem que forma me fez despregar da cadeira, saí dali com a carteira na mão a correr até á minha mãe, euzinha, mulher feita, no alto dos meus 30 anos e pumbas!
Fui ao hospital onde basicamente de doparam, foi de tal forma que dormi a tarde toda, claro que saí de lá sem uma justificação para o que se passou ou se me a deram eu não me lembro, não estava acordada o suficiente para tal.
Não passou, fui a um cardiologista e nada, fui a um neurologista e nada, a cada dia mais cansada, cada dia mais estranha até que e num ato de desespero fui a uma psicóloga.
No meio da conversa ela disse-me que eu não sabia respirar, eu, descrente que sou, pensei, sem dizer, o que raio estava eu ali a fazer, o raio da mulher não é bem da cabeça, olha agora era o que mais me faltava!
E ela continuou, que eu tenho um espirito que não se deixa controlar, que não sei lidar com isso, sou livre de mais, contra isso nada a fazer mas "tem que se lembrar de respirar, deixe sair o CO2!".
"Não esta a saber controlar o que sente, o seu problema é que está ansiosa, stressada e cansada de lutar contra essa sua faceta independente e tudo isso mas sem dúvida a sua inimiga é a ansiedade".
Devo ter feito todo um ar de dúvida, nunca tive qualquer problema com ansiedade, aliás, desde quando é que a ansiedade é um problema, pensei eu, isso é só mais uma coisa que as moças finas têm, manias, não é?
Não, não é nada disso, é tudo isto e mais alguma coisa e complica-se a si própria. É horrível, é só o pior sentimento de todos, ou quase isso.
Tenho tentado muito respirar, nem sempre me é fácil, não tenho na minha vida pessoal nada que me atire para esta situação, isto, este sentimento de merda, no meu caso, vem do meu trabalho, não dos meus colegas, não do trabalho em si mas da pressão, do facto de não ter que me substitua a 100%, da falta de reconhecimento e ainda assim do olhar de lado de todas as vezes que saio às 18h30 para ir buscar a minha filha, eu saio, mortinha para já ter saído antes, sempre que passo o pórtico tudo passa, tudo fica lá, em casa sou rainha, sou louvada e sou feliz e completa.
Tenho vindo a aprender técnicas, formas de me acalmar, maneiras de prevenir mas ainda é tudo muito novo e difícil.
Respirar, foi preciso 30 anos para perceber isto, não é fácil, parece de loucos, mas respirar não é assim tão realizável, encher os pulmões, até bem lá no fundo e relaxar, sentir os ombros descontrair, repetir o processo, três, quatro vezes.
In and out, dentro e fora.

Repete!

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1 comentários

  1. oh mulher que andas num sufoco desgraçado... mas sim, a vida não é tão linear quanto cremos e por vezes situações destas aparecem... eu tive a minha quota de ataques de pânico em que sim, não sabia respirar.. se te entes assim muda... muda pk aos 30 ainda és uma criança com muito para viver e se não te estás a sentir bem é altura para o fazeres... ando ausente, mas quando precisares de falar - pk por vezes os desconhecidos são melhores para isso - estou cá para ti ;) bjca

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