Os rótulos e as coisas

maio 09, 2016

minha experiência de vida deu-me mais que muitas razões para não me achar no direito de ser uma espécie de inventor dos outros, não me vejo no direito de dar nomes ás coisas, de rotular as pessoas ou de catalogar as acções. Deve de ser por ter tido aquelas adolescência dos filme com jovens adultos fora da idade do armário. Nunca me vesti como os outros, nunca me enfiei no mesmo saco e era definitivamente diferente não por ter a mania de o ser mas inconscientemente, por natureza própria. Claro que a minha mãe levou com os "não sei como é que deixas a tua filha andar assim", foi até chamada à escola pela directora de turma que lhe deu a intender que andava metida nas drogas (sabia lá eu com 12 anos o que é que era isso), tudo porque pintava o cabelo de cor de rosa e me estava bem a cagar para o que os outros iam acha ou dizer. O meu pai disse-me uma vez "vais mesmo sair com isso à rua?" (eram uma calças extra largas à boca de sino e rasgadas nos joelhos) com ar de "oh meu Deus ado a criar um bicho muito estranho, mas vamos lá!".
Depois foi por causa dos piercings, porque é que os tinha, como se não passassem de furos nas orelhas só que em outros sítios mandando sempre a dica de a tatuagem ao menos ser uma coisa mais artística, como se anos mais tarde fosse existir diferença entre ter ou não lugar para a minha filha no infantário só porque optei por uma coisa e não pela outra. Depois foi porque ia para festas, como se quem não vai ás discotecas da moda fizessem melhores escolhas do que só porque iam curtir a noite para um local fechado porque lá é só gente bem rotulada. No entanto nunca apanhei uma bebedeira, nunca perdi o caminho de casa e nem nunca (como me perguntaram ainda à coisa de 15 dias) "andei saída da mãe".
Deve ser um carma isto, só pode, porque mesmo agora que não tenho piercings, que me visto normalmente normal e que até sou mãe de filha continuo a levar com o rotulo de qualquer coisa que não corresponde minimamente ao conteúdo, e não, não estamos a falar do mau feito, isso já toda a gente sabe que nem é defeito, é uma questão de sobrevivência.
Agora sou nariz empinado.
Como se tivesse a pretensão de ser melhor que os outros ou quisesse constipar o nariz.
Pois que uma pessoa já não pode esperar para ver como é que os outros reagem à sua presença invocando a típica timidez que pode assistir a qualquer um, não, pessoa deveria mudar de espaço e colegas e agir como se conhecesse todo o mundo só porque todo o mundo acha que a conhece (e como se assim não fosse a maluquinha).
É esta mania de ter que dar nome ao que não se conhece, julgo na minha boa vontade que deve ser por uma questão de segurança própria, todos ficamos reticentes com o que não conhecemos e até aí eu até percebo, mas pode magoar uns e ferir uns quantos isto que me elucida a mim. Não percebo é o porquê de o rotulo ter sempre de ser negativo, como quem vende o produto com a data de validade expirada.
Porque é que têm de existir um problema?
Acho que isto é aquilo a que os adultos do século presente chamam de bulling, não?
Esses adultos que atiram para o ar "a culpa é dos pais que não tiveram mau neles" quando se deparam com os já costumeiros vídeos apresentados em horário nobre nos telejornais nacionais. São estes mesmo adultos que dão o exemplo quando e sempre que se julgam inventores da pessoa que já foi inventada.
Acha moral não?!
A mim só me incomoda, só, não devia sequer causar qualquer efeito uma vez que isto, de ser tratada como coisa, já me é normal.
Os meus pais, aqueles que me deixaram andar é vontade, os mesmos que têm os amigos com filhos esses sim "fora da mãe", esses amigos que lhes atiraram muitas vezes com o "tu não fazes nada?", estes pais que se estiveram a cagar para o que os outros iriam pensar, ensinaram-me a não inventar o que já está inventado e a ter orgulho nisso, porque não se ganha nada em julgar os outros mas sim em perceber porque é que os outros os julgam, os rotulam e os fazem de coisas.



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