Devíamos de ser mais bichas fêmeas

julho 07, 2015

Acabo de ler isto...viveu como um bicho macho...e percebo o contexto, achei até bem dirigido mas ficou-me a latejar no subconsciente como lateja a dor que advém de bater com o dedão do pé na esquina da cama.
Analisando os bichos em geral, os bicho macho têm uma vida muito simples até e no fundo vivem em função das bicho fêmea, para proteger, agradar e claro fecundar a bicho fêmea. Por seu lado a bicho fêmea está-se a burrifar (ou faz crer que sim), faz a sua vida como se ele nem ali estivesse (mas está sempre de olho), até ao momento que deixa de estar. O importante da questão é que o bicho macho leva em consideração a bicho fêmea, respeita até os coices não merecidos, pode até ter ou pretender ter muitas bichos fêmea mas para todas elas existe a mesma consideração.
Isto no reino animal.
Estou portanto em crer que a racionalidade nos fez mal.
Onde é que se perdeu a consideração pela bicho fêmea?
Em que altura deixou de ser importante galar a bicho fêmea?
Em que altura o bicho macho se começou a burrifar?

A culpa é da racionalidade, a culpa é essencialmente da nossa pretensão a tudo, a ser mãe, socorrista, mulher e amante, professora, moderadora e revisora, defensora e até aniquiladora, a culpa é da nossa pretensão racional a ser tudo, ser melhor e tudo menos bicho fêmea.
O problema, se é que há um problema, é que a bicho fêmea precisa de ser cortejada mesmo que não queira, mesmo que não ache preciso, mesmo que seja forte e voraz como a racionalidade nos ensinou a ser. A bicho fêmea precisa de protecção mesmo que se saiba defender do mundo sozinha, precisa do colinho, de servir de porta-chaves por baixo da asa do bicho macho, de fazer conchinha mesmo que se saiba, que sozinha, no mundo lá fora do ninho, consegue subir o Evereste com toda a tropa islâmica atrás e chegar ao topo sem chegar sequer a transpirar. 
Mas, o bicho macho, simplista como é, de curta palavra, de objectivo fácil e olhar comprimido não sabe navegar nisto que é não ser só bicho fêmea, vê a força (quando vê), vê o faz tudo (quando vê), vê o deixa-me que faço sozinha (quando vê), vê tudo menos o que lhe devia ser óbvio para um bicho tão primordial como é. Nisto não têm culpa nenhuma tendo em conta que continua a ser um galante e a deixar a bicho fêmea passar primeiro, quando lhe dá jeito, ouve o "não", o "não quero", o "não preciso", o "deixa-te estar que eu safo-me sozinha", e fica ali, quieto e sossegado, por vezes em panic mode porque já sabe de antemão que vai dar merda se não fizer nada e vive, pobre infeliz, na dualidade que é decidir entre não fazer nada porque a bicho fêmea diz que não e o fazer porque sabe que o não quer dizer sim. O bicho macho não vê a necessidade básica, talvez a única ainda existente no nosso lado da espécie, não vê que apesar que já ter conquistado o seu par, devia, como na natureza sem raciocínio, proteger, agradar e vá, até fecundar a bicho fêmea.
E isto é importante, para todos os bichos, machos e fêmeas, é importante e está em falta, por culpa nossa, as maiores lesadas. Talvez seja por isto que muitas relações não funcionam e podíamos divagar sobre o assunto num minuto eterno, que de nada nos valia porque, isto de apontar as culpas têm sempre dois lados mas vamos admitir que a culpa é dos dois, de um porque se burrifa e de outro porque não quer sair da pretensão de ser tudo para de vez em quando largar o escudo, sentar a um canto e ver como isto de ser só bicho é um máximo.

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